07/01/2014

5:15

Há um ano e três semanas, no início de Dezembro de 2012, eu e sua mãe estávamos conversando sobre sua chegada. A ansiedade, a antecipação... você, assim como sua irmã, foi muito aguardado. Mas eu tinha uma preocupação, e comentei com a mamãe:

“Putz, sabe o que eu estava pensando? A Cat foi tanta emoção, foi algo tão especial... seria injusto com o Rafa que não fosse igual, e eu tenho um pouco de medo... como a gente já passou por isso, será que vai ser tão emocionante? Você pensa nisso também?”

E sua mãe, com aquele jeitinho dela, respondeu que já tinha pensado nisso também, mas “Ah, tenho certeza que vai ser sim, é sempre diferente... agora é um menino, já é diferente.”

Isso me deixou um pouco mais tranquilo, mas confesso que a pulguinha permaneceu atrás da minha orelha. Só que eu tenho certeza que, lá dentro da barriga da sua mãe, você me ouviu e pensou: “Ah, é, papai? Você vai ver só!” Porque sua chegada foi tão inesquecível quanto a da sua irmã, assustadoramente inesquecível.

No dia 06 de Janeiro de 2013 fomos dormir, mas eu estava completamente insone. Fiquei fritando na cama até 3:30 da manhã, última vez que olhei no relógio. Já era dia 07, uma segunda-feira, e você estava previsto para chegar por volta do dia 14. Sabíamos que era a qualquer momento, e às 4:30 da manhã sua mãe me acordou dizendo que “era hora”. Eu havia acabado de pegar no sono, e ainda perguntei para sua mãe se ela tinha certeza. Ela disse que sim: pulei da cama e perguntei aonde estava a malinha que tínhamos que levar para o hospital. Enquanto fui pegar a mala, ela foi pegar alguma coisa que tinha deixado na secadora (aiai). Estávamos prontos! Mas era preciso um xixi antes e...

“Não vai dar tempo de chegar no hospital!”
“Calma, claro que dá, é a menos de 5 minutos daqui! Vamos para o carro, eu te ajudo a andar!”
“Não, você não tá entendendo! Não vai dar tempo! Corre aqui!”

Quando cheguei e fui espiar, já dava para ver a ponta da sua cabeça e os cabelinhos!

“Ih, já tá nascendo!”, berrei. Segundo a mamãe, meus olhos pareciam de mangá nessa hora (e pela próxima hora, hora e meia, aliás. E eu acredito nela).
“O que que eu faço???”
“Deita no chão!”, eu disse, e a ajudei a deitar. Um de nós dois soltou um “E agora?” e o outro respondeu “Agora a gente vai ter que fazer nós mesmos!”, mas sinceramente não lembro quem disse o quê. A sensação de pânico, de medo de algo dar errado, era de ambos. Era nítido na troca de olhares.

~*Contração*~

Enquanto eu ajudava (pouco), apareceram sua testa e seus olhinhos fechados. Sua mãe mal respirava com o susto, e minha preocupação maior (e anestesia, meodeos? Com a Cat era tanta dor que ela não conseguia nem falar até ser anestesiada! Como ela vai fazer com tanta dor?) foi em vão, acredito que por conta da adrenalina – bendita adrenalina! – porque a Mô comentou que nem pensou na dor (apesar de ter doído bastante, mas foi suportável).

~*CONTRAÇÃO*~

Eu segurava sua cabecinha e ela saiu toda. Já via seu nariz, sua bochecha, seu queixo e até seu pescocinho. Seus olhinhos continuavam fechados. E aí mamãe lembrou:

“Rô, tem um vizinho aqui no prédio que é médico! Liga pro porteiro e pede pra chamar!” – um pequeno (grande) alívio! Grande mamãe!
“Você sabe o nome dele, qual apartamento?”
“Não. Mas o porteiro deve saber, liga lá!” Bom, dada a situação, sua mãe lembrar o que lembrou já foi muito, temos que reconhecer.


Foto: mamãe, nas horas vagas.

Corri. Nosso apartamento não é grande, mas estava tudo em câmera lenta e parecia que eu tinha corrido os 100m rasos em tempo recorde. Tenho que confessar, o caminho até o interfone foi o maior pânico que passei a noite toda (sim, depois do pânico de saber que eu, que fugi de biologia porque sempre tive nervoso com sangue e afins teria que fazer um PARTO, e o parto do MEU filho ainda por cima, era possível sentir mais pânico). Explico: seus olhinhos fechados e a cabeça penduradinha me assustaram – claro que ali não tem muito espaço para se mexer, né, mas quando a gente está (muito muito muito) assustado a gente pensa besteira. E eu comecei a pensar: “será que o Rafa está nascendo 1 semana antes porque houve algum problema?” (assim: racionalmente eu sabia que nascer 1 semana antes da data estimada não é nada demais, mas minha capacidade de ser racional já tinha ido embora na hora que sua mamãe berrou que “era hora”) “E se ele demorar para nascer e não conseguir respirar, meodeos, o que vou fazer?” Porque eu lembrava do nascimento da sua irmã, da dificuldade da sua mãe em fazer força (por causa da anestesia), da pressão da enfermeira, literal e figurativamente, pulando na barriga da sua mãe durante as contrações e dizendo para ela fazer mais força porque não podia demorar mais – se no hospital, com tanta segurança, era tão crítico, imagina em casa? E por aí vai.

Mas consegui falar com o porteiro, ele sabia quem era o médico e disse que ia chamar. No instante em que desliguei o interfone ainda morrendo de medo, você chorou o choro mais maravilhoso que já ouvi na vida, e o alívio que veio com esse choro tirou o mundo dos meus ombros, foi como um banho quente no seu velho aqui. Corri de volta para o quarto e lá estava você, sobre a toalha, aos berros. E eu só conseguia sorrir.

“Ele nasceu!”
“Inteirinho?”
“Inteirinho, Mô! E está bem!” eu não continha as lágrimas. Perdi a última contração, mas não importava. Nada no mundo importava naquele momento: você estava bem, tinha nascido inteiro. “Você conseguiu, amor!”

E, com tudo isso acontecendo, eu e sua mamãe berrando para se comunicar e eu correndo pelo apartamento, sua irmã... nem tchuns, continuou dormindo. E isso foi o melhor que poderia ter acontecido.

Isso foi há exatamente um ano, e tenho certeza de que até você chegar em uma idade que vai poder ler isso aqui, já terá ouvido essas histórias mil vezes - mas sabe como é, estou ficando velho e se eu não registrar, como vou lembrar para te envergonhar pelo resto da vida? (heheh) Feliz aniversário, filhão. Amamos você demais, mesmo com o maior susto que já tomamos na vida. Vou guardar o resto da história para seu aniversário de 2 anos, apesar que com a maneira que você já chegou chegando, tenho certeza de que assunto não vai faltar.
.

4 comentários:

Anônimo disse...

Já ouvi essa história ao vivo, mas mesmo assim acabei de derramar uma duzia de lágrimas aqui. Parabéns Rafael, por um ano de vida e por ter pais tão especiais. <3

Tayza Carvalhaes disse...

Incrível, não sabia dessa história... Realmente emocionante, dei uma choradinha básica aqui... Vocês todos são especiais. Lindos... Parabéns (atrasado) para o Rafinha e para toda essa família mágica.

Julia Franco Gomes disse...

que lindo !!! parabéns! quero que aconteça assim comigo um dia rsrrsrs

Julia Franco Gomes disse...

que lindo !!! parabéns! quero que aconteça assim comigo um dia rsrrsrs